Dorme com os anjos

E já lá vai meio ano, em que de repente foste. Sim, de repente. Uma pessoa nunca se sente preparada, nem disposta a aceitar a realidade mais dura e inevitável. (Lembro-me ao pormenor.) E assim tu foste, visitada uma última vez por todos os que te amavam. Parecia que estavas à espera, para depois, sim, ires em paz.
Não imaginas a dor que eu senti quando te vi com os olhos fechados, sabendo que nunca mais iriam olhar para mim, a dor que eu sinto todos os dias por não te poder ver, nem abraçar, nem ouvir, nem sentir. É horrível olhar pela janela da cozinha e já não te ver à espera, ou simplesmente te ver sentada nos bancos a apanhar ar.
A minha vida alterou-se. Os cafés em tua casa arrefeceram, como o teu corpo sem vida. A minha alma sofreu, que muitas vezes parece que ainda berra. E tu, desapareceste do mundo, mas não do meu âmago. Desapareceste aos meus olhos, aos meus ouvidos, ao meu corpo, mas ainda continuas tão presente em mim, num sítio chamado coração. Sabes quando falo contigo baixinho, e choro no escurinho? Sofro, dói-me tudo o que tenho. Mas sabes quando recordo as nossas conversas de horas, e as histórias que me contavas da tua vida? choro, choro muito, choro por entre sorrisos de saudade, e soluços de felicidade, por saber que falamos muito e que te conhecia, melhor que ninguém. 
E agora escrevo-te, não pela última vez, mas para te dizer que hoje a saudade apertou mais do que ontem.
Dorme com os anjos e não te preocupes, eu não me esqueço da luz. 


Agora vou ali chorar (mais) um bocadinho e já venho

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