Pões-me a sonhar ao sol

Desipotecaste-me os sonhos e montas-te-me de novo, peça por peça. Adoptaste as minhas convicções adormecidas, voltaste a acordar tudo aquilo que eu era e tudo aquilo que me fazia vibrar. Recuperaste o tempo que ninguém quis, a azáfama que ficara perdida aí mesmo. A vida que me foi injectada e que me adormeceu para o resto nunca me chegou, como eu nunca cheguei para essa vida. Trouxeste-me de volta. Atordoada pelas coisas que me foram disparadas enquanto dormia. Trouxeste-me de volta. Puseste-me a sonhar ao sol, como a loira o fizera antes. Fizeste-me recordar quem eu sou e fizeste-me querer voltar a ser eu, porque nunca se deixa de ser quem é, às vezes é que nos matam e toda a gente deixa. Tu ressuscitaste-me. Fizeste-me abrir os olhos e voltar a ser a alma que nasceu à dezassete anos.
Tu puseste-me a sonhar ao sol. Deste-me a vida que agora tenho, recuperaste-me a alma, e devolveste-me o amor próprio perdido algures.
Tu puseste-me a sonhar ao sol. A ver o mundo, e não a olhá-lo apenas. Tu puseste-me a sonhar ao sol. Criaste um milagre. Devolveste-me o rosto, devolveste-me o nome. Tive direito à tristeza, ao abandono, ao nó no estômago que me puxou para baixo, me revoltou e me fez numa pessoa pior. Tu fizeste-me ter direito a este sentido de ter direito, a este sentido de ter um bocadinho do que é meu. De ter direito a um bocadinho de fé, de esperança, de cumplicidade, que sempre foram meus apesar de tudo.
Os meus sonhos adiados, e a vida posta à porta foram escolhas minhas que via os dias todos os iguais e sem motivo. Tu fizeste com que eu não tenha medo dos dias, da monotonia, do desafio. Fizeste com que eu não tenha medo de lutar, e de querer. De falhar e de perder. De ganhar e de ver. De ser feliz. Fizeste com que eu perdesse o medo dos sonhos, e do amor. Deste-me um motivo. Fizeste-me voltar a ser quem era.

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