Avó, és mãe

A minha alma transborda dor. Sou incapaz de crer que alguém que me criou tão bem possa estar submetida à decadência da velhice. Com o cérebro paralisado, sem voz, sem a lembrança das pessoas que ela viu crescer. A dor é imensa, não há reacção possível. Nunca nos ensinam a lidar com este tipo de coisas, porquê? Ela faz anos daqui a uma semana, será que ainda os festeja connosco? É o único dia em que a família consegue estar toda unida, por ela.
Ela falava tanto comigo, contava-me como conheceu o avô. Como era a escola no tempo dela e que brincava no meio da rua. Que gostava de passear no Porto e que trabalhou numa fábrica onde pintavam brinquedos. Agora está paralisada, não tem como falar e mal consegue respirar. E sexta à noite saí de sua casa (horas antes do seu enfarte cerebral) desfeita em lágrimas, da sua falta de esperança e do seu cansaço, da falta da sua velha alegria e da sua sabedoria. 
Ainda está entre nós, mas dizem que por pouco tempo. Avó, és mãe. 

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